Especial Dia do Servidor Fazendário – A vida para além da arrecadação

28 de setembro de 2023 - 16:19 #

Sara Rebeca Aguiar - Texto
Arquivo Pessoal - Fotos

Multiartista, Maria Aurelina Farias de Araújo é servidora pública há mais de 35 anos e encontra em uma rotina também de narrativas, tintas e risos a plenitude de ser múltipla

Antes de chegar à Secretaria da Fazenda do Ceará (Sefaz-CE), Aurelina já havia iniciado no serviço público, em outro órgão do Estado. Porém, a chamada para a posse do concurso da Fazenda, que fizera anos antes, instigou-a a experimentar algo novo. E foi uma aposta com certezas já estabelecidas desde o primeiro dia de trabalho, diante da apresentação do, então, recém criado Coral dos Fazendários.

“A minha chegada aqui [na Sefaz-CE] foi em um dia festivo. A Fazenda estava sendo homenageada pela Câmara de Vereadores com a Medalha Boticário Ferreira. Quando o Coral começou a cantar, eu me arrepiei toda e, naquele momento, eu desejei fazer parte do Coral. Ali, eu falei: ‘é na Sefaz que eu quero ficar’. O clima era diferente: a alegria, o acolhimento, a humanidade entre as pessoas. Eu ainda sinto a energia daquele momento porque ela existe até hoje”, garante Aurelina.

A veia artística guiou a percepção da “decisão mais correta” feita, há quase 30 anos, segundo ela mesma nos conta, mas também abriu portais para experiências profissionais tão intensas quanto. Formada em Administração de Empresas, com Mestrado na área, a servidora viveu expedientes de serviço nas cidades de Russas, Iguatu e Quixadá, antes de fixar-se em Fortaleza. Há quase 20 anos, vive o dia a dia do setor de Recursos Humanos (Célula de Desenvolvimento de Pessoas – Cedep), que a ajudou a florescer também como escritora, pintora e clown (palhaça). Além de fortalecer o amor pelo magistério que ela desempenha desde os 17 anos.

Escritora

A paixão pela escrita veio do pai, mestre trovador. Dos três filhos, Aurelina era quem revisava os escritos do pai, que, durante muitos anos, manteve a família, principalmente, como gerente de casas de cinema, em Fortaleza. “Ele era todo cultural. Assistia a diversos filmes, lia bastante. Tinha só até o 4º ano, mas escrevia muito bem, escrevia crônicas para alguns jornais da época. Era bem crítico. E acho que, por muito tempo, tive até um pouco de vergonha do que eu escrevia, porque meu pai era muito exigente”.

Ao longo de décadas, os rascunhos acumularam dentro das gavetas. Foram amigos que a encorajaram a publicar. E a primeira coletânea foi lançada em 2014. A segunda, em 2017, no Brasil, e também em Buenos Aires, na Argentina. De lá pra cá, Aurelina já perdeu as contas do número de publicações de que participou.

Em março deste ano, a escritora alçou voos nunca antes imaginados: lançou sua mais recente obra intitulada “O Jovem Mancebo e Outras Histórias”, no Salão do Livro de Genebra, na Suíça. Um sonho realizado. “Foi uma homenagem ao meu pai (se vivo, teria feito 100 anos em 2022, ano de publicação da obra), e também ao meu irmão mais novo, que morreu de Covid-19, durante a pandemia. Um baque grande para todos nós. Mas a literatura é também cura. Para mim, ela é reflexão e cura”. O livro traz crônicas, relatos de experiências e poemas. A autora fazendária já teve algumas das obras escritas, coletivamente, traduzidas também para o Francês, pela Helvetia Éditions.

Professora Clown

Dos prazeres que também definem a personalidade de Aurelina ganha destaque o de ser professora. Terminou o “2º Grau Normal”, formando-se, logo em seguida, pelo “4º Ano Pedagógico”, o que a habilitou a dar aulas para crianças. Dedicou-se ao ofício durante muitos anos. O magistério resvalou-se às atribuições como servidora pública.“Comecei aqui como facilitadora de aprendizagem no Recursos Humanos. Depois, comecei a dar aulas de Planejamento Estratégico, Inteligência Emocional, Relações humanas, Planejamento de Gestão de Pessoas, na Escola de Gestão Pública (EGPCE). Já dei aulas em faculdades também. Minha paixão é a área comportamental. Amo ser professora”.

A sala de aula foi outro portal para Aurelina descobrir-se muito mais. A vontade de tornar-se uma educadora ainda melhor, a fez buscar no teatro mais dinamicidade na relação de aprendizagem com seus estudantes, e o teatro apresentou a ela o encantamento do clown, um tipo específico da arte da palhaçaria. “Ser palhaça nunca esteve nos meus planos. Vi um curso, me inscrevi e adorei! O clown trabalha muito a expressão, a fisionomia, o riso fácil, sem ridicularizar o outro. É a graça fascinante, pelo silêncio da fala. Traz a leveza, a grandeza da alegria pela simplicidade”, descreve. Aurelina dá vida à personagem Leketrefe e já participou de várias apresentações, dentro e fora da Sefaz.

Mãe pintora

Com 66 anos, prestes a completar 30 anos apenas de serviços prestados ao Fisco estadual, Aurelina orgulha-se também das versões mãe e esposa, funções que tanto honra cumprir como força maior para conquistar os sonhos que idealiza. Ela é mãe do psicólogo Davi, de 34 anos; do oficial da Marinha Mercante Daniel, de 31 anos; e da arquiteta Raquel, de 27 anos. Ao seu lado também, o contador Ailton, de 67 anos, compartilha décadas de companheirismo. “Eles são a minha razão de viver ”, declara-se.

É ao lado da família que Aurelina curte os dias de folga, em um sítio na região metropolitana de Fortaleza, Lá, mantém um ateliê de pintura, prenda que aprendeu com a mãe costureira. “Gosto de pintar em cerâmica e em tecido. A pintura foi a minha primeira manifestação artística. Muito marcante para mim, porque foi minha primeira fonte de renda. Minha mãe costurava uns panos de prato e eu pintava e vendia. A pintura é minha calmaria, é onde eu recupero meu centro, meu foco”, justifica.

Futuro entre palavras

Diante de tantos talentos, ela reflete acerca da relação que sempre manteve entre trabalho formal e atividades artísticas. “Todas essas expressões artísticas dialogam para que eu possa me entender melhor no mundo, com o mundo e com o outro. Sempre tem esse quê de descoberta, de autoconhecimento.”

Para os próximos anos, ela reitera que quer que a literatura ganhe ainda mais espaço na vida dela e já tem planos para um novo lançamento. “Quero me dedicar ainda mais à literatura. Minha maior satisfação é que alguém leia o que eu escrevi e me diga o que achou, se aquilo, de certa forma, fez sentido para ela. Em 2024, vou lançar meu livro de memórias de viagens”, planeja Aurelina.

Projeto Multiverso

A história da multiplicidade de talentos da servidora Maria Aurelina Farias de Araújo lança, neste Dia do Fazendário (28/9), a nova versão da série Multiverso, nas redes sociais e no site da Sefaz-CE. O Especial reconhece os talentos dos nossos servidores, que possuem atuações sociais relevantes, para além da rotina fazendária.